Arquivo diário: 29 de maio de 2010

Temas de redação para o vestibular 2012 e 2013

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Abaixo, alguns temas que poderão ser abordados nas provas dos Processos Seletivos (Vestibulares e ENEM) 2012/2013.

Participação Política: um ato de cidadania

Código Florestal Brasileiro

Respeito à diversidade: fimda homofobia.

Imagem: o mundo por imagens( Ter x Ser)

 *Oriente Médio: o princípio de uma nova era.

* 2011: Ano Internacional das florestas.

*Educação: a base para a justiça social.

* Homofobia: violência contra os direitos humanos.

*Legalização da maconha: este é o caminho?

*Inclusão social

*Igualdade de gênero

*O jovem e a democracia. 

* Juventude e responsabilidade social: é assim que se faz um Brasil para todos.

*Os benefícios da prática esportiva para o indivíduo e para a sociedade.

        * Em que mundo você quer viver? (Considere os impactos ambientais e o comportamento humano diante do meio ambiente)

        * Os desastres naturais no Brasil: acidentes ou a natureza em resposta ao homem?

       *A ditadura no Brasil. Por que os crimes ainda não foram punidos?

      *Juventude: tempo de mudanças e tempo de mudar.(Quais as perspectivas políticas e sociais da juventude nacional?)

              *Inclusão digital: um direito de todo brasileiro.
             * O trabalho escravo no Brasil: uma realidade intrigante.
 
  • Pulseira do sexo.
  • Bulling: um ato de violência e preconceito.
  • Bioética
  • Problemas na camada de ozônio (Um tema atual que vem trazendo muitos impactos ao planeta e ao nosso DNA)
  • Imprensa x democracia.
  • Brasil da copa e Brasil na copa do mundo.
  • Pré-sal x sustentabilidade.
  • O paradoxo entre a imagem externa do Brasil e os problemas sociais enfrentados em nível interno.
  • A pedofilia na Igreja Católica.
  • As tragédias naturais.
  • A violência urbana.
  • O voto: exercício de cidadania.
  • Fontes limpas de energia. Como?
  • Ficha limpa.
  • Craque no Brasil.
  • Política e responsabilidade social.
  • Educação: princípio para a igualdade social.
  • Ditadura militar no Brasil: um período do qual o brasilerio deve se envergonhar. Até quando irá a impunidade?
  • Crack, droga cinco vezes mais potente que a cocaína:  o vilão que assola a juventude brasileira.

Novato

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Novato

           (Valéria Duarte Guedes)

 

            Vi que ele não falava, ou quando falava, murmurava e eu não ouvia a sua voz.

            Cabisbaixo sempre. Olhar de quem tem medo de se mostrar. Tinha um jeito não sei de quê; porém jeito familiar.

            Simpatizei logo com aquele desafio que me convidava, silenciosamente, à aproximação.

            Quando chegava à sala, ressoava um bom dia entusiasmado e esperava dele algum retorno.

            Já havia um mês de aula, e percebi que não fizera amigos. Sentava-se na fila do meio, em quarto lugar e ninguém o via, ninguém o ouvia, em meio aos trinta e sete colegas que tagarelavam, riam brincavam e se animavam com as aulas .

            Naquela terça-feira, após o poema de Augusto dos Anjos, o comentário sobre a forma defensiva, a qual o autor escolhera para viver, arrancou-lhe um sorrisinho meio amarelo, sem expressão.

            Uma alegria invadiu-me de tal forma que insisti no assunto e algumas piadinhas me escaparam espontaneamente.

            Em casa, pensei: há algo distante e próximo, obscuro e transparente naquele comportamento que passava por imperceptível a alguns olhares.

            Passei a chamá-lo à leitura, ele balançava a cabeça com uma negativa.

            Era atento, fazia as atividades, porém não se manifestava.

            Gostava ou não de estar ali? Sentia-se um intruso? O que lhe causava medo de se mostrar?

            Aquilo tudo era agora uma série de preocupações:

–          Não gostava de mim? Das minhas aulas?

Procurei os colegas, disseram que era realmente assim; era o jeito

dele; “era novato na escola”, “isso passa”; e finalmente, um comentário que me despertou atenção: “veio de uma pequena cidade, não sei qual”.

            Quinta-feira. Aula à tarde. Contei um caso que aprendi com meu pai para ilustrar a personagem Jeca Tatu, de Lobato. Foram muitos risos. O meu jeca, ou seja, do meu pai, agradou os meus adolescentes urbanos, e em especial, notei sorriso gostoso, tímido; mas espontâneo e  feliz como se tivesse intimidade com esse tipo de assunto, vindo lá da fila do meio. Ele ria … ria e entendia do que eu falava.

            Conferir dever de casa daqueles adolescentes prestes a ingressarem em uma universidade não era bom, mas quando peguei aquele caderno, cuja minúscula letra trazia sempre as atividades em dia….

Ah!  Peguei aquele caderno, ergui à altura dos olhos e dei uma vasculhada em outras páginas.

            Na capa, havia uma casa meio campestre desenhada e uns versinhos de uma música que descrevia “um reino encantado”, mistura de recanto feliz com peraltices que me trouxeram lembranças da infância… doce  infância  que vivi. Num dos versos: “a família, pais e irmãos” e o esclarecimento que encaixou tudo: ” bem distante da civilização.”

            Quando acabei de ler, olhei para ele com firmeza e percebi seus olhos fixos em mim como se pressentisse que algo nos unia, inconscientemente.

            Segura daquela mistura de sentimentos, disse-lhe, brincando:

–          Tá com saudade de casa; tá sentindo falta do que é bom. Sei como é!

Um sorrisinho e um balançar de cabeça confirmou minha descoberta.

No dia seguinte, na semana seguinte, no mês seguinte muito havia mudado entre nós. Éramos marinheiros do mesmo barco, com visões diferentes sobre o infinito azul do mar.

          Ele ainda estava aprendendo a conviver com a ausência; eu já não trazia tanta certeza de que isso não era possível.

     Ao final daquele ano letivo, melhor do que saber de sua ida para uma universidade federal, foi vê-lo sentir-se feliz por ter estado naquele lugar, com aquelas pessoas, sem mais a sensação de peixe fora d’água.

   No início do ano seguinte, ele não estava mais lá. E, quando ninguém mais falava nos jovens que se foram, devido às preocupações do ano vigente, uma mãe, de quem nunca ouvi falar e que não me lembrava de ter visto em uma das reuniões por etapa, pede meu comparecimento à sala da coordenação.

 Antes mesmo de me apresentar, ela já dizia me conhecer, e subitamente, entregou-me uma caixa com um delicado lenço e um bilhete em papel colorido: “Sem você, eu não conseguiria ficar. Muito Obrigado. Seu aluno sempre.”

Curiosa Democracia

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E quem disse que a utopia acabou? Se é ela, a responsável por configurar e ornamentar os palanques da hipocrisia?

Pensando bem, amigo leitor. Como vai nossa democracia?

– Utopia?

– Hipocrisia?

Talvez se tornaram aliadas para sustentarem o convincente argumento de certos governantes, que por alguns instantes ( período de campanha ) são os mocinhos e heróis- símbolos do Projeto de Salvação da Pátria, que aliás, tem nos sido muito ingrata!

Não, amigo leitor. Isso não é um jogo de rimas, mas sim, verdadeira indignação.

Sabe um desses dias, em que o tempo não está quente, nem frio? – Morno! Como a prática da solução para as necessidades de cidadãos como nós?

Deu pra imaginar?

Pois é! Foi em dia desses, recente, porém constante, que a palavra Democrático despertou em mim, uma curiosidade conflitante…

Parei no sinal.

Horário de pico. Muitos trabalhadores retornavam às suas casas,  para o tão almejado descanso. E eu, compunha aquele cenário de mãos, braços e mentes que constroem e nem sempre usufruem da construção.

Enquanto esperava , vi aquelas mãozinhas frágeis de uns doze anos de vida, pés descalços, rostinho fino, olhos fundos de quem não sabia muito o que tinha nas mãos, mas carregava a certeza de que era seu ganha-pão, ou quem sabe, os possíveis trocados que ajudariam a família a comprar o pão.

De certo, aquelas mãozinhas deveriam empunhar o lápis e a caneta, assim como aqueles olhinhos estarem voltados para os livros e outros encantos que o ambiente escolar tem a obrigação de proporcionar às nossas crianças e aos nossos adolescentes.

Curioso! O fato era curioso e tornava-se, a cada instante, mais curioso. Como os olhos curiosos e atentos à parada dos carros para não perder uma janela aberta( como se o tivessem treinado para tamanha agilidade nas pernas e mãos) para a empreitada de distribuir aqueles papéis a todos.

A rapidez do sinal cronometrava-lhe a quantidade de papéis a serem por ele entregues.

E, eu, ali!

Antes que chegasse até mim, eu já pensava no meu filho, nos filhos dos que também paravam naquele lugar e em tudo o que era privado àquele garoto, pela necessidade de cumprir aquela  obrigação a ele incumbida.

Curioso!

Ele se aproximou  do carro e entregou-me um jornal, como se o alívio se  aproximasse dele, pois pareceu-me ter a expressão de quem estava prestes a acabar o dia de trabalho.

Não houve tempo para questioná-lo sobre o produto que distribuía…

Mais intrigante era a pergunta que ainda não se calou em meu pensamento, diante daquela cena:

–            Será que o garoto sabia o significado daquilo que me entregara?

–          Curioso! Isso sim, amigo leitor, é muito curioso: um jornal denominado “O

Democrático”- deveras, não fosse  tão triste a realidade, seria cômica a cena.

O Democrático! Um jornal que, já à primeira vista, denomina a utopia ou a hipocrisia, talvez ambas, com as quais nomes se fazem, personalidades se impõem e, infelizmente, ainda endossa  a filosofia enganosa dos agentes democráticos que ilustravam as páginas coloridas que se distanciavam da realidade em preto e branco daquele nosso personagem-mirim que as entregava com admirável avidez.

Colocado no banco do carona, o meu agora novo passageiro- O Democrático_ aguçava a minha curiosidade, pois sempre ouvi dizer no sonho da Democracia.

Assim, durante todo o percurso, por seguidas vezes, olhei para ele na tentativa de absorver-lhe alguma alegria, ainda que fosse somente esperança vã.

Ao chegar à garagem de minha casa, não me contive. Peguei o Democrático na expectativa de encontrar a prática daquela tão sonhada, também por mim, amigo leitor: a democracia.

Curioso!!!

Agora, muito curioso era o que os meus olhos liam e com o que minha consciência, mesmo cansada do trabalho, se constrangia.

Mas vocês sabem… As palavras… É impressionante como elas podem ser facilmente manipuladas e muito mais, manipular.

Talvez, outros, que agora, se detivessem também diante do Democrático, já nem se lembrassem do exemplo de cidadania e democracia visto na figura do ” menino do sinal”.Também, aquele era só mais um menino sem nome, cujo rosto não era muito marcante mesmo.

Ainda dentro do carro, no jornal em minhas mãos, estavam as palavras-chaves, as palvras-mestras ou até mágicas em ano de eleição, intrigavam-me:

“Um novo tempo, a mesma dedicação.”

“… o partido que mais trabalhou pela cidade.”

“Programa…”

“Construção…”

“Ações sociais…”

“Projeto…”

“Trabalho e fé para mudar.”

Dentre outras, essas são algumas das posições das palavras que formavam, naquele papel, expressões intencionais, forjadas em informação.

Não soube, naquele instante como definir a palavra Fé, ali tão bem empregada. E como não tenho muita clareza , interroguei-me, na busca de uma resposta:

–          Fé?

–          Boa fé?

–          Aproveitar da boa fé de alguém?

–          Permitir-se acreditar em quê?

–          Tomar posse de uma crença que assim como eu, todo o povo, carrega?

Na verdade, não soube até então, com que fé a palavra foi articulada pelo Democrático.

Mas, de repente, algo me animou. Um fio de esperança  ressurgia através de uma nova chamada, que foi capaz de  causar-me  certa alegria. E mais…impulsivamente, eu refazia meus sonhos democráticos na leitura do título de um projeto de nível federal:

“Projeto Olho Vivo.”

Imaginei: – olho vivo? ôpa!

Gosto de gente de olho vivo, porque é gente que tudo vê, com tudo se preocupa, gente que sente que o olho é a janela da alma, como dizia o poeta.

Olho Vivo! Não, leitor! Não era olho gordo. O adjetivo era Vivo!!!

E lá estava o projeto: “instalação de câmeras de vídeo para coibir a ação de marginais e baixar os índices de violência na cidade.”

Não deu outra!!!

Lembrei-me do nosso personagem do sinal, tão vivo em minha memória e tão real aos nossos olhos.

É ali que se deve Olho Vivo.

Não naquele sinal ou naquela avenida, e sim, naquele menino e na educação de qualidade que lhe falta. Pois ela- a Educação de Qualidade- ela sim forma de cidadãos conscientes  e é a base para a dignidade dos mesmos, e sem dúvidas, é a melhor forma de coibir a violência.

Em vez de privar os cidadãos que andam por esses ares, por que não investir na sua verdadeira liberdade, torná-los ávidos à prática democrática com justiça, no lugar das ilusões, das utopias e de tanta hipocrisia?

Terminada aquela curiosa e conflitante leitura, amigo leitor, não pude fugir da verdade:

Eu estava prestes a subir as escadas, entrar em casa e abraçar saudosamente meu filho. Sendo assim, precipitei-me em encontrar a lixeira mais próxima e livrar-me de tudo o que li, pois eu sabia que o abraço que me aguardava era tão puro e que, ainda como aquele menino do sinal, nada sabe sobre democracia.

Porém, eu não perdi a esperança de que, um dia, meu filho possa viver a experiência, certamente maravilhosa, do verdadeiro valor Democrático.

Valéria Ferreira Duarte Guedes – 05/08/2006

Navegar é preciso; viver é ainda mais preciso.

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Navegar é preciso; viver é ainda mais preciso.

Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

“Navegar é preciso; viver não é preciso.”

Fernando Pessoa a transformou, segundo seus dons e necessidades artísticas,  em expressão de sua condição espiritual:

” Viver não é preciso; o que é preciso é criar.”

Quanto ao “homem presente, do tempo presente, da vida presente”, pode-se afirmar:

Viver é Preciso!

Navegar; Também é Preciso!

Pois, o Viver é precioso!

Sem navegar não é possível  viver!

Viver

Sobreviver!

Sobreviver

Viver!

E acrescenta-se então, Conviver!

Pois é tão preciso quanto….

Não se pode esquecer,então, do poeta que fez,  outrora, seus versos filosofarem a esperança na boca de muitos pela capacidade de incitarem a esperança de tempos vindouros:

” Viver e não Ter a vergonha de ser feliz….

cantar e cantar e cantar, na certeza de ser um eterno aprendiz!”

O homem sempre precisou aliar o trabalho à vida e a vida ao trabalho, não se sabe com que prioridade.

Sempre se viu o sol ressurgir, após uma noite tempestuosa.

E a  cada tempestade, o homem  interrogar- se:

Até quando navegar?

Até onde navegar?

Qual a melhor rota para não se perder, em meio às intempéries que o viver proporciona?

E, ao contrário, torná-las aprendizado para eternos aprendizes que não se cansam da melodia das águas: ora suaves; ora aterrorizantes.

O homem trabalha…navega

O homem vive…se entrega

O homem convive…

Carrega!

Carrega as crueldades do mundo, carrega a concorrência entre os homens, carrega as incertezas da vida, o medo de não navegar o quanto é preciso e não viver o quanto precisa.

Eis a lástima na qual o homem se encontra:

Há tantos sonhos pra sonhar…

Há tanta garra em seu querer…

Ele navega e vive…

Ora vive…ora navega…

Mas nunca desiste de viver e navegar,

Ainda que, às vezes, mais navega do que  vive.

Porque é assim que a sociedade mecanizada exige.

Preso em seu barco, o homem sente medo de navegar

Preso nas grades de seu viver, o homem é ameaçado de poder navegar.

Toda navegação carrega guarnições que, aos olhos de outros homens, valem mais que o próprio homem.

Todo navegar exige coragem para ousar a águas desconhecidas, que depois de conquistadas enobrecem o bom navegador, que deseja, após sua conquista, voltar pra casa e sentir a merecida sensação de viver com dignidade.

Assim, ele é o aprendiz  que procura conciliar a alegria da missão cumprida no trabalho com a primorosa convivência com seus companheiros, diretos ou indiretos, de navegação.

Essa é a difícil empreitada que começa,  recomeça, se transforma e toma forma como o barro na mão do oleiro.

Por isso há de se pensar que o momento presente é único para erguer os braços, que estão, confortavelmente cruzados, diante da violência abrupta que  impede o homem de permitir-se Viver, além de navegar e  de Navegar para Viver.

É sempre bom lembrar que o bravo navegador não desiste diante dos temporais, mas sabe reconhecer a grandeza do tempo e respeita o poder das águas, o que o torna merecedor do respeito daqueles que se acovardaram diante das primeiras gotas da chuva e esconderam seus sonhos nos porões dos navios alheios.

Navegar é preciso! Viver é ainda mais preciso!

Quem navega com a atitude de quem quer viver, torna-se honrado pelo mérito da persistência que o levará à condição de aprendiz bem sucedido na arte de ser feliz.

Aos que  se fazem empecilhos diante da Vida de um navegador honrado, seja pela violência da carne ou do espírito, cabe-lhes a justiça, que a pé ou a cavalo costuma chegar, pois ela não sabe ou não quer agir com a mesma  rapidez das navegações, tampouco com a bravura dos navegadores.

E, devido a essa velocidade de ação será preciso que todos os navegadores deste país se unam com fidelidade à crença de que:

Quem navega, merece viver!

E viver como se cada dia que se levanta fosse o último e cada  rota  fosse a primeira.

Valéria Duarte Guedes

Novo Enem: formato qualitativo ou quantitativo?

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“ O formato é novo, mas ratifica antigos erros da história da educação do Brasil.”

No começo de 2009, o ministro da Educação Fernando Haddad, propôs a reformulação do Enem para torná-lo a avaliação de seleção para as universidades públicas federais.

Segundo Haddad, o novo formato do Enem, em que a prova passou de 63 para 180 questões (inicialmente seriam 200, mas o número foi reduzido), divididas em quatro áreas: linguagens, códigos e suas tecnologias (incluindo redação); ciências humanas e suas tecnologias; ciências da natureza e suas tecnologias; e matemática e suas tecnologias indica, para o Ensino Médio, a eficiência da política educacional brasileira, justificada em entrevista à imprensa, quando ele afirma: “Se nós não alterarmos isso, sinalizando para o Ensino Médio que queremos outro tipo de formação, mais voltada para a solução de problemas, vamos continuar reproduzindo conhecimento que não ajuda o Brasil a se desenvolver.”

Pouco se sabe do motivo pelo qual o ministério da educação decidiu praticar a imensa obra de caridade aos pobres mortais (jovens estudantes brasileiros), de diminuir de 200 para 180 o número de questões nesse novo formato. O importante, até então, é que o estudante saiba que ele deve dar graças a Deus por essa decisão, visto que 200 era o número exato de suas questões nas provas do Enem para avaliar o nível de seu conhecimento. O que denota a seriedade e coerência da fala do ministro com a realidade dos fatos.

Sendo assim, torna-se imprescindível o questionamento sobre o número dessas questões, assim como também é inquestionável o fato de que quantidade de questões não avalia conhecimento capaz de ajudar o país a se desenvolver.

O Brasil é marcado pela história da educação quantitativa: informações sem objetivos ou justificativas para sua prática, teorias e mais teorias, sem a devida aplicação cotidiana, despejadas em cabeças julgadas vazias de conhecimento, por sistemas alienadores com vistas à reprodução e ao não- questionamento. A  História de heróis e não de um  povo. A Matemática em fórmulas incríveis para quem não sabe contabilizar o que é possível ser realizado com o salário mínimo nacional.  O estudo científico que não se interessou, ao longo dos séculos, pela ciência que cada aluno adquiriu em sua própria história. E o estudo da Língua Portuguesa? Este não se deu ao trabalho de reconhecer as variedades linguísticas deste povo, sua cultura, seus porquês e suas manifestações, ainda que ministrado dentro de um mosaico cultural chamado Brasil . Por que,ainda,  não se incentivou, nem se desenvolveu a capacidade de argumentar e de explicitar os pensamentos, através das necessidades individuais e coletivas? Irrisório.  Nada disso interessa ao modelo educacional quantitativo, alienador e falido.

Na verdade, a educação brasileira contabilizou o número de informações e o impôs sobre a qualidade delas e ignorou sua aplicação para o desenvolvimento humano, e consequentemente, de todo a nação.

Então? 200, 180 questões. Uma maratona para quem tem maior resistência física e psicológica ou para quem tem conhecimento aplicável ao crescimento do país?

Talvez, apenas uma queda de braços, onde nem sempre o mais preparado vence; mas o mais descansado, o mais paciente, que treinou e treinou e treinou para ler textos e enunciados repetitivos, às vezes até óbvios, mas exaustivamente repetitivos, nos quais a mesma temática aparecerá três, quatro, cinco vezes para testar se há conhecimento ou não. Ironicamente, isso até lembra   velhos programas de auditórios, cujo apresentador, com ar de graça e soberba, questiona a certeza do participante, a cada escolha sua. Contudo, o apresentador ratifica a certeza do participante sem a necessidade de oferecer-lhe perguntas e temáticas repetidas aleatoriamente, oportunizando-lhe até uma certa diversão.

Nada divertido, porém,  é o rendimento nacional que comprova a incoerência entre a fala do ministro da educação e a realização da prova do Enem 2009, pois, conforme divulgado pelo Inep , após levantamento sobre as notas da prova,  mais da metade dos alunos que a realizaram,  não alcançaram a média, ou seja, 50% dos objetivos propostos. Frustrante mesmo é verificar, ainda, a disparidade entre a menor a  e a maior nota que comprova a aplicação do conhecimento  linguístico  e matemático na prova do Enem. Para a área de linguagens, códigos e suas tecnologias, as médias ficam entre 224,3 e 835,6 (de 22,4%  para  83,5% ). No caso de matemática e suas tecnologias, as notas vão de 345,9 a 985,1.

Então?  Quem são  os estudantes de 23% e os  de 83,5%? Como traçar o perfil da educação brasileira? Que medidas serão tomadas diante desse caos? Oxalá que não seja um  Enem 2010 com 200 ou 250 questões a serem resolvidas.

Dar um novo formato à prova do Enem não resolverá o problema de base da educação brasileira, assim como tornar esse processo quantitativo, não o torna capaz de cumprir seu objetivo, inicialmente, justificado pelo ministro Fernando Haddad.

Uma prova para verificar a aprendizagem e sua aplicação técnica vai além de “decorebas” e “maratonas”.  Implica, pois, na elaboração de questões de compreensão das ciências e domínio do conhecimento, de análise e da capacidade de argumentação sobre o que é lícito ou não para a formação de “um país para todos”, possibilitando que isso, mais que um lema, seja, antes, uma realidade.

Contudo, é bom lembrar o velho ditado popular: “corta-se o mal pela raiz”. Caso não haja mudanças significativas na formação do aluno, já nas séries iniciais, estudantes brasileiros continuarão à mercê das jogatinas políticas e o que aparenta hoje ser um avanço, resultará, em breve, num grande retrocesso.

Professora Valéria Duarte Guedes